cooperativa da FIESP (problemas)

cooperativa da FIESP (problemas)

Tensão na Fiesp
Acusado de lesar mutuários de uma
cooperativa habitacional, diretor
de Meio Ambiente da Federação abre
polêmica na reta final da eleição

Por Marco Damiani

A mistura de negócios particulares com sua dupla condição de diretor de Meio Ambiente da Fiesp e vice-presidente do Ciesp transformou o empresário Ângelo Albiero Filho em personagem central na última fase das mais disputadas eleições empresariais do País. Albiero destacou-se na campanha como cabo eleitoral do candidato a presidente Claudio Vaz, apoiado pelo atual presidente Horácio Piva. Agora, seus problemas na Justiça têm sido usados pela equipe do candidato Paulo Skaff, que corre pela raia da oposição, no esforço de ganhar os votos indecisos. As eleições estão marcadas para esta quarta-feira 25 e apenas uma previsão é confiável: a de que o resultado, para um ou outro lado, será dos mais apertados da história das duas entidades. Neste contexto, qualquer fato novo pode definir a disputa.

Candidato a um dos cargos de vice-presidente do Ciesp na chapa encabeçada por Claudio Vaz, Albiero é réu numa ação civil pública movida pela Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo de Mogi das Cruzes. Ele responde a acusações de ter participado de um esquema que lesou centenas de sócios da extinta cooperativa habitacional Fiesp/Ciesp. Com a promessa de entregar 5 mil habitações populares, a cooperativa foi lançada por ele na subsede do Ciesp em Mogi em julho de 1997, chegou a reunir mais de dois mil associados mensalistas e comprou, por R$ 3,9 milhões, dois terrenos na periferia da cidade. Apenas 40 apartamentos foram entregues e, às vésperas do malogro da cooperativa, Albiero, que coordenara a compra dos terrenos, associou-se ao vendedor das duas áreas, José Machado Pinto.

Fotos: Daniel Wainstein

CONDOMÍNIO BEIJA-FLOR Cooperativa Fiesp/Ciesp prometeu 4,2 mil apartamentos, mas só entregou 40
Esses movimentos, somados à grita dos cooperados lesados, despertaram a suspeita do promotor de Justiça Marcus Vinícius Monteiro dos Santos. Ele abriu uma ação popular e desconfia que a cooperativa foi usada para carrear dinheiro para o atual diretor da Fiesp. “O empreeendimen-
to mostrou-se um bom negócio para Machado e seu companheiro Albiero”, registrou o promotor, “na medida em que, se utilizando da cooperativa Fiesp/Ciesp, lograram instituir um empreendi-
mento de alto risco para os cooperados e assegurar a Machado e seu sócio Albiero todas as vantagens possíveis no negócio, vendendo por significativo valor uma área à Cooperativa”.

Outro caso de utilização da marca Fiesp/Ciesp por Albiero em seu próprio benefício pessoal e comercial está registrado na Secretaria Estadual do Meio Ambiente. Uma das empresas em que ele é sócio, a RAS, foi citada numa comissão de sindicância aberta ali em outubro de 2002. Havia a forte suspeita de que Albiero (o A da RAS) e seu sócio Romildo Campelo (o R), diretor-adjunto de Meio Ambiente da Fiesp, pressionaram técnicos da Cetesb para permitirem a exploração do solo de uma área preservada de 8 hectares à White Claytech Mineração Ltda. Detalhe: sem atestado de licença ambiental. A concessão, mais tarde, foi cassada pelo governo paulista. “Constata-se que a condução na Cetesb e nos demais órgãos do sistema foi permeada por interferências não usuais e muitas vezes descabidas dos representantes do empreendedor”, registra o texto da comissão de sindicância. “Cabe ressaltar que dois dos sócios da RAS e consultores da White Claytech no processo são membros do Conselho Estadual do Meio Ambiente como representantes da Fiesp. Tal condição a eles confere um acesso privilegiado às dependências, aos técnicos e aos dirigentes das entidades ambientais.”

Na semana passada, integrantes das duas chapas avaliaram em reuniões de campanha o impacto que a divulgação da situação de Albiero poderia causar na reta final da eleição. Nunca antes a Fiesp assistiu a uma eleição tão disputada. Mais de uma centena de delegados sindicais irão às urnas na quinta-feira para definir o novo presidente. No Ciesp, o voto é direto, e mais de cinco mil empresários estão em condições de formar o colégio eleitoral.

Fotos: Daniel Wainstein

CONDOMÍNIO MATA-ATLÂNTICA: Nenhuma habitação, apesar da
abertura de vendas de 800 imóveis
“Esses assuntos em torno do Albiero são novidades para mim”, disse Vaz à DINHEIRO. “Não mudarei meu plano de campanha por causa disso, mas quando estivermos juntos vou querer saber a versão dele.” O ex-presidente da Fiesp, Carlos Eduardo Moreira Ferreira, que estava à frente da entidade quando a cooperativa foi lançada em Mogi, disse desconhecer o caso. “Estou a pé nesse assunto”, registrou.

As cooperativas nasceram nos anos 80, quando a Fiesp desenvolveu um plano de construir casas e apartamentos baratos em 100 municípios paulistas. Cerca de seis mil unidades foram construídas, mas a partir da ocorrência de atrasos ou até mesmo ausência de entrega das habitações, como aconteceu em Mogi, vários processos começaram a ser movidos contra a própria Fiesp. O departamento jurídico conseguiu fazer com que a responsabilidade jurídica da entidade deixasse de existir. As cooperativas com os nomes Fiesp/Ciesp foram extintas na gestão de Piva. Ficou no lugar a Cooperativa 22 de Maio, em homenagem à data de lançamento do projeto, em 1988. Hoje, está praticamente inativa.

O empresário Ângelo Albiero, ouvido pela DINHEIRO, negou as acusações. “Não tenho parte formal na cooperativa de Mogi, não sei o que estou fazendo dentro da ação”, reagiu. “Sei que a cooperativa fez muitos acordos com quem ficou sem apartamento. O recurso à Justiça é coisa de uma meia dúzia de pessoas.” O promotor Monteiro dos Santos, no entanto, sustenta que cerca de dois mil ex-cooperados tentam reaver as mensalidades pagas por meio da ação popular. O caso ainda não tem data para ser julgado. As eleições para a Fiesp/Ciesp, ao contrário, acontecem nesta semana.

http://www.terra.com.br/istoedinheiro/364/negocios/tensao_fiesp.htm