'Precisamos apressar a instalação da cozinha', disse engenheiro da OAS, segundo testemunha do caso tríplex BANCOOP
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'Precisamos apressar a instalação da cozinha', disse engenheiro da OAS, segundo testemunha do caso tríplex BANCOOP
Operação Lava Jato
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POR FAUSTO MACEDO E RICARDO BRANDT, ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
26/02/2016, 04h35
Em depoimento à força-tarefa da Operação Lava Jato, em Curitiba,
Armando Dagre relatou reunião para vistoria do apartamento
no Guarujá e que percebeu 'uma certa intimidade' entre ex-primeira-dama
e o empreiteiro Léo Pinheiro
Fachada do Condomínio Solaris, no Guarujá. Foto: MOTTA JR./FUTURA PRESS
O engenheiro Armando Dagre, sócio da Talento Construtora, declarou à força-tarefa
da Operação Lava Jato, em Curitiba, que identificou “uma certa intimidade” entre
o empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, e a ex-primeira-dama Marisa Letícia em um
dia de setembro de 2014 quando ambos fizeram uma visita às obras do tríplex
164-A no Condomínio Solaris, Guarujá.
Em depoimento prestado na terça-feira, 23, a dois procuradores do Ministério
Público Federal que investigam se Lula recebeu favores da OAS por meio da reforma
do apartamento no litoral paulista, o engenheiro relatou que um executivo da
empreiteira, Paulo Gordilho, e o filho mais velho de Lula, Fábio, acompanhavam
Léo Pinheiro e a mulher do ex-presidente.
Armando Dagre contou que estava reunido com engenheiros da OAS para uma
vistoria no imóvel quando chegaram Marisa, Gordilho e Léo Pinheiro – este preso
na Lava Jato e condenado a 16 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro.
Segundo o engenheiro, após ouvir a informação de que a obra estava praticamente
pronta, Gordilho teria dito. “Então precisamos apressar a instalação da cozinha.”
O sócio da Talento Construtora – subcontratada da OAS para a reforma do tríplex
do Guarujá – já havia feito um primeiro depoimento sobre o caso, mas no âmbito
do Ministério Público Estadual de São Paulo.
Nessa ocasião Armando Dagre disse que o contrato com a OAS incluiu novo
acabamento, além de uma outra piscina, mudança da escada e instalação de
elevador privativo que custou R$ 62,5 mil. O custo global ficou em R$ 777 mil.
Ele disse que não teve nenhum contato com Lula, apenas com Marisa Letícia,
naquele dia, no apartamento do Guarujá. “A reunião estava se desenvolvendo
antes de Léo Pinheiro e dona Marisa chegaram. O propósito do encontro era
para verificar o cronograma da obra.”
À força-tarefa da Lava Jato, Dagre confirmou o que havia declarado à Promotoria
de São Paulo, inclusive a informação de que a ex-primeira-dama animou-se
com a vista para a praia das Astúrias.
Segundo Armando Dagre, “quem comentava mais sobre a obra eram os
engenheiros da OAS”. Ele apontou Paulo Gordilho. “Conhecia mais a obra que
o próprio Léo Pinheiro.”
Em sua edição de 20 de fevereiro, a revista Veja publicou mensagens trocadas
pelo WhatsApp entre Léo Pinheiro e Gordilho que, na avaliação da Lava Jato,
reforçam suspeitas de ligação do ex-presidente e sua mulher com o tríplex.
O ex-presidente Lula e Dona Marisa durante passeio de barco em Fernando de Noronha,
em 2008 / Ricardo Stuckert/ PR/DIVULGACAO
Os textos, de fevereiro de 2014, resgatados pelos peritos da Polícia Federal,
indicam que Gordilho e Léo Pinheiro, este ainda na presidência da OAS,
estavam empenhados em concluir projeto de instalação de cozinha que, na
avaliação dos investigadores, seria a do apartamento no Solaris.
Os investigadores supõem, ainda, que as mensagens fazem referência ao
sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP).
“O projeto da cozinha do chefe está pronto. Se (puder) marcar com a Madame
pode ser a hora que quiser”, escreveu Gordilho.
“Amanhã às 19 hs vou confirmar, seria bom tb ver se o do Guarujá está pronto”,
respondeu Léo Pinheiro.
“O do Guarujá está pronto”, devolveu Gordilho.
“Em princípio, amanhã às 19 hs”, anotou Léo Pinheiro.
Os investigadores consideram que “chefe” é uma referência a Lula e “Madame”
uma citação a Marisa Letícia.
Léo Pinheiro foi preso pela Polícia Federal em novembro de 2014, na Operação
Juízo Final, etapa da Lava Jato que pegou alguns dos maiores construtores do
País como integrantes de um cartel que se apossou de contratos bilionários da
Petrobrás entre 2004 e 2014. O empreiteiro foi condenado a 16 anos e quatro
meses de reclusão por corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
Em 2006, quando se reelegeu presidente, Lula declarou à Justiça eleitoral
possuir uma participação em cooperativa habitacional no valor de R$ 47 mil.
A cooperativa é a Bancoop, que, com graves problemas de caixa, repassou
o empreendimento para a OAS. A Polícia Federal e a Procuradoria da República
suspeitam que a empreiteira pagou propinas a agentes públicos em troca de
contratos fraudados na Petrobrás.
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