João Vaccari - quem dava poder? OGLOBO
Página 1 de 1
João Vaccari - quem dava poder? OGLOBO
Próximos passos
POR MÍRIAM LEITÃO
25/09/2016 09:00
http://blogs.oglobo.globo.com/miriam-leitao/post/proximos-passos.html
Quando houve o mensalão, a maioria do país acreditou no que o então presidente Lula disse: que fora traído
e de nada sabia.
E assim ele se reelegeu. Na Lava-Jato, é impossível usar o mesmo ilusionismo, então Lula se transforma
em vítima, não dos amigos e assessores, mas dos procuradores que “futucam”.
A operação continuará em atividade, apesar das celeumas, porque há muitos campos de trabalho.
Lula continua um grande estrategista. Diz que ninguém o bate no Brasil, exceto Jesus Cristo, e assim seus
interlocutores se esquecem que ele perdeu três eleições presidenciais. Ele se coloca como candidato em 2018
com dois propósitos.
O primeiro é de se fazer vítima de perseguição política. O segundo é que ele sabe que o poder se alimenta
do futuro do poder. Portanto, se houver uma chance de ele voltar a ser presidente, será olhado com mais
reverência pelos que circulam em torno dos governos no Brasil.
Os fatos conspiram contra ele, e não o Ministério Público.
Outras partes do mesmo processo trarão novas dores de cabeça para o ex-presidente, como o sítio em
Atibaia.
E pode ser usada a prova indireta, a mesma que condenou José Dirceu no mensalão, ou seja, de que
é impossível que ele não soubesse e não autorizasse aquelas práticas.
Não apenas pelo cargo que exercia, mas por todos os outros indícios, citações, o “conjunto probatório”.
Mas nem só de Lula vive a Lava-Jato. Os procuradores aguardam o atendimento do pedido de que
o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha desça para a primeira instância.
Após a publicação do acórdão da 2ª turma, em Brasília, o que leva em média 30 dias, Eduardo Cunha
será investigado por Curitiba. E há muitas frentes de trabalho quando o assunto é Cunha.
O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega terá de enfrentar os desdobramentos da ação da última
quinta-feira, 22. O que foi revogado foi apenas a prisão e não a investigação em si.
Até agora, todas as vezes em que houve busca e apreensão, o Ministério Público acabou apresentando
a denúncia contra as pessoas envolvidas. Isso só não aconteceu em investigação na qual se espera
a chegada de documentos vindos do exterior. É o que acontece no caso Pasadena.
Mantega continua sendo investigado a partir do testemunho dado ao Ministério Público Federal no Paraná
pelo empresário Eike Batista, de que ele pediu dinheiro para pagar contas do partido.
Eike fez um movimento estratégico, indo a Curitiba em vez de esperar que Curitiba batesse à sua porta,
mas isso não o blinda contra o avanço de investigações.
No caso de Mantega, há um debate sobre se
o que ele fez é crime ou não. Pedir dinheiro para um partido é crime?
Não. Mas se, em razão do cargo
público, ou de contratos, a pessoa que pede tem o poder de decidir assuntos do interesse da pessoa
que recebe o pedido, isso se configura crime, sim.
O ex-ministro era presidente do Conselho de Administração da Petrobras, com a qual Eike tinha contratos.
E ele decidia inúmeros assuntos que poderiam favorecer ou prejudicar Eike Batista.
Todo o poder que ele tinha na época proibia que ele fizesse parte da atividade arrecadadora
do Partido dos Trabalhadores.
O PT usou a máquina do partido para arrecadar como nenhum outro. De forma sistemática.
É isso que levou à prisão os seus tesoureiros desde o mensalão.
Só sendo mesmo uma política de partido,
e com o apoio de quem estava no governo, para explicar o fato de que grandes empreiteiros aceitavam
exigências feitas por João Vaccari.
Um Paulo Roberto Costa, um Renato Duque tinham poder de fechar
ou revogar contratos e por isso as empresas pagavam propina a eles.
Mas de onde vinha o poder de João Vaccari? O que pode o tesoureiro de um partido contra uma grande
empreiteira?
Nada, exceto se o tesoureiro tiver poder para além do que seu cargo indica, ou seja, se ele estiver
vinculado a autoridades do próprio governo, se a sua ação for respaldada por quem está dentro
da máquina pública.
Sobre esses enigmas, dados e novos nomes é que se debruça a Lava-Jato neste segundo semestre
de 2016. Quem pensava que a operação estava esgotada, ou poderia ser abafada, errou.
Ela continua em plena atividade e já organizando os próximos passos.
(Com Alvaro Gribel, de São Paulo)
- TAGS:
- Coluna Panorama Econômico
Página 1 de 1
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos
|
|