MP vai investigar morte de ex-presidente da Bancoop

Crime em São Paulo

MP vai investigar morte de ex-presidente da Bancoop

A morte de Luís Eduardo Saeger Malheiro, ex-presidente da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop), vai ser investigada pelo Ministério Público de São Paulo. A versão oficial é que Malheiro foi vítima de um acidente de carro, em 12 de novembro de 2004, no município de Petrolina, Pernambuco. Mas, segundo seu irmão, Hélio Malheiro, ele havia sido alertado para reforçar sua segurança pessoal.

O alerta, afirmou Hélio, ocorreu no início de fevereiro de 2002. Duas semanas antes, no dia 18 de janeiro daquele ano, Celso Daniel (PT), prefeito de Santo André, fora seqüestrado e fuzilado em um atalho de terra em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo.

Segundo Malheiro, quem fez o alerta a seu irmão foi José Carlos Espinoza, na época chefe do Gabinete Regional da Presidência da República em São Paulo. Para Hélio, "o acidente está mal explicado". Em depoimento à Promotoria de Justiça, ele pediu investigação sobre o caso. Disse que considera "estranhas as circunstâncias" do desastre que vitimou seu irmão e outros dois dirigentes da Bancoop.

Hélio Malheiro depôs terça-feira. Foi seu segundo relato à promotoria, em menos de uma semana. No primeiro, dia 29 de maio, ele afirmou ter ouvido do irmão que "tinha de ceder às pressões políticas e, muitas vezes, se via obrigado a entregar valores de grande monta para as campanhas eleitorais do Partido dos Trabalhadores, desviando os recursos que eram destinados à construção das unidades habitacionais".

Malheiro denunciou que recursos que teriam sido desviados da Bancoop abasteceram a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República, em 2002, e do deputado Ricardo Berzoini (PT-SP). Ele contou que, naquele dia, em 2002, foi à sede da Bancoop, à Rua Líbero Badaró, centro, chamado por seu irmão "para tratar de assuntos referentes a uma obra".

Quando chegou à sala de Luís Eduardo "viu que ele conversava com Espinoza". Depois, ouviu do irmão: "Esse cara (Espinoza) é segurança do Lula, em função da morte do Celso Daniel ele me orientou a reforçar minha segurança pessoal."

"Fiquei preocupado porque a morte do prefeito não tinha nenhuma relação com a atividade do Luís Eduardo à frente da presidência de uma cooperativa habitacional", declarou Malheiro ao promotor José Carlos Blat, que conduz investigação sobre supostas irregularidades na Bancoop. "Meu irmão respondeu que se tratava de questões relacionadas ao crescimento da Bancoop e que o cargo dele estava sendo muito visado. Fiquei bastante desconfiado."

A versão que recebeu sobre o acidente não o convenceu. A ele, disseram que seu irmão estava no banco traseiro do carro. Na frente iam os outros dois diretores da entidade. O que estava ao volante teria adormecido e o carro bateu de frente com um caminhão. O acidente ocorreu à tarde. "Meu irmão era uma pessoa muito desconfiada quando não estava na direção do carro, não dormia em hipótese alguma."

"É algo muito esquisito", avalia o promotor Blat, que enviou cópia do relato de Malheiro ao promotor de Justiça Roberto Wider, de Santo André, responsável pela apuração do assassinato de Celso Daniel. Wider jamais aceitou a versão policial sobre crime comum - o prefeito petista, concluiu o Departamento de Homicídios, foi vítima de seqüestradores que agiram sem motivação política.

Para Blat, "são fortes os indícios de crimes e de caixa 2 com recursos da Bancoop". Suspeita que a entidade "tem perfil de organização criminosa". "O caso é muito grave, gravíssimo."

Blat disse que Malheiro decidiu contar o que sabe e o que diz ter ouvido do irmão porque a investigação apontava para ele. Outros depoimentos ao Ministério Público indicam que parte dos recursos que teriam sido desviados circulou por contas correntes de Malheiro.

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