Compradores lesados de lofts na Vila Madalena APCEF COOP

Esqueletos, enfim, serão concluídos10-09-2009


Compradores lesados de lofts na Vila Madalena assumem o negócio e retomam obra parada há quase três anos.

Acordo assinado este mês permitirá a retomada das obras dos três esqueletos de prédios vizinhos à estação de metrô Vila Madalena, na zona oeste de São Paulo, uma das regiões mais valorizadas pelo mercado imobiliário da capital, cujo metro quadrado custa cerca de R$ 4 mil. Abandonado há três anos, o condomínio Premium Vila Madalena, constituído de lofts de um e dois dormitórios, será concluído em 20 meses.

Tudo deu errado na história desse empreendimento imobiliário, que começou em 2001 como qualquer outro: estande de vendas, homens-placa pelas ruas do bairro, folhetos nos semáforos. Na época, os lofts eram a última moda do mercado, hoje já não gozam da mesma popularidade. Das 160 unidades previstas, os corretores chegaram a comercializar 120.

A construtora TS era uma das empresas envolvidas na incorporação. A outra era uma cooperativa, a Associação de Pessoal da Caixa Econômica Federal (Apcef). O terreno pertencia à Refrescos Bandeirantes, empresa que distribui os produtos da Coca-Cola em Goiânia (GO). O fracasso do Premium Vila Madalena se deu justamente aí, na compra do lote.

Assinados diversos contratos de compra e venda com os futuros proprietários, o empreendimento chegou à fase de início de obras, quando a cooperativa deveria pedir empréstimo à CEF e começar a levantar os prédios. O banco exigiu que a Apcef tivesse, pelo menos, o terreno comprado e escriturado. A partir daí, ficou um jogo de empurra entre a cooperativa e a Refrescos Bandeirantes.

De um lado, a Bandeirantes exigia que a associação quitasse o negócio, antes de escriturar o terreno. Isso porque a empresa possuía pendências tributárias e precisava quitá-las. De outro, a cooperativa precisava justamente do terreno para usá-lo de garantia do empréstimo bancário.

O tempo foi passando, e a obra foi sendo tocada a conta-gotas. Em 2004, parou. Foi quando os compradores lesados decidiram se unir e procurar um escritório especializado para exigir seus direitos. Contataram o Viviane Amaral Advogados, que atua na retomada de obras da Encol, construtora que faliu em 1997 deixando vários esqueletos de prédios pelas principais capitais do País.

'Foi aquela coisa do sonho que se transformou em pesadelo', conta o engenheiro Alexandre Pandolfo, de 36 anos, comprador que assumiu a frente de luta contra a cooperativa e acabou virando presidente da assembléia de compradores.

MUDANÇA

Após tomar o controle do negócio, o grupo conseguiu fechar a compra do terreno. Agora, um por um dos compradores assina novo contrato de compra e venda, abandonando o sistema cooperativo para o de incorporação imobiliária.

Na cooperativa, apesar de o imóvel sair mais barato, o comprador não adquire o apartamento, e sim uma cota. O imóvel será adquirido apenas após a conclusão da obra, e, geralmente, por sorteio. No sistema de incorporação, o comprador tem direitos como garantia de entrega em até seis meses depois da data fixada.

Além da mudança de modalidade, o grupo de compradores entrou com projeto modificativo do empreendimento na Prefeitura. As construtoras Kallas e Cargil assumirão a obra e ficarão encarregadas de comercializar as unidades - cerca de 80 - que não foram comercializadas ou de compradores que desistiram do negócio ao longo do tempo. Os lofts custarão entre R$ 230 mil (um dormitório) e R$ 300 mil (dois). 'Acho que todos nós aprendemos muito nesse vaivém da obra. Há muitas histórias para contar, de cada um, da união que nos foi exigida, na persistência de todos, para conseguir concluir o negócio', diz Pandolfo.

Segundo ele, procedimentos como checar se o sistema adotado é cooperativa ou incorporação, se há pendências com o terreno e se há garantia de empréstimo à construtora ou se a empresa tem condições de tocar a obra são procedimentos que hoje todos passaram a usar antes de assinar a compra.

Sérgio Duran

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